Hemorragias

Cada pessoa tem no corpo uma quantidade de sangue correspondente, aproximadamente, a 7% a 8% do peso corporal (cerca de 5-6 litros no adulto). Essa quantidade de sangue circula dentro de uma rede muito complexa de canais denominados vasos sanguíneos, no meio da qual existe um órgão que impulsiona o sangue e o faz circular. Esse órgão é o coração.

Em funcionamento normal, a rede de casos sanguíneos está completamente cheia de sangue, o qual também preenche o coração.

O coração trabalha por contracções e relaxamentos (dilatações) sucessivos. Em cada contracção sai sangue do coração para os vasos e em cada relaxamento volta a esse órgão uma quantidade igual de sangue.

O sangue que sai do coração vai ser distribuído por todo o corpo, levando às células os elementos nutritivos absorvidos nos intestinos e o oxigénio do ar ventilado, o qual é absorvido nos pulmões.

Os vasos sanguíneos que, partindo do coração, se vão distribuir por todo o corpo chamam-se artérias. Estas, no seu percurso, ramificam-se repetidamente, originando artérias de calibre cada vez menor, até que no final (junto às células) têm a espessura de cabelos, designando-se capilares. Uma vez livre de oxigénio e dos elementos nutritivos, o sangue absorve o dióxido de carbono e os produtos de excreção que devem ser eliminados. Para isso, o sangue volta ao coração, com passagem pelos pulmões, onde aquele gás é expulso para a atmosfera. Os vasos que conduzem o sangue de volta ao coração chamam-se veias.

CONCEITO DE PULSAÇÃO

A rede de vasos sanguíneos está normalmente cheia de sangue, o qual exerce uma pressão uniforme nas paredes internas dos vasos, mantendo-as, assim, sempre abertas. O sangue também enche o coração quando este está em relaxamento (diástole).

Quando o sangue sai do coração para a artéria aorta e restantes vasos, impulsionado pela contracção cardíaca (sístole), a força e a velocidade que animam a deslocação dessa massa de sangue ocasionam distensão ligeira das paredes arteriais como consequência do embate desse sangue na rede vascular.

Essa onda de choque, síncrona com os batimentos cardíacos, transmite-se até às pequenas arteríolas mais distantes do coração.

A pulsação é a sensação palpável de distensão momentânea das artérias provocada pelo impulso e choque de uma massa de sangue nas paredes arteriais como consequência da contracção cardíaca. A pulsação permite avaliar indirectamente como o coração se comporta em dado momento. Avaliam-se factores tais como:

  • Ritmo (regular/irregular)
  • Frequência (aumentada/normal/diminuída)
  • Amplitude (fraca/forte)
  • Simetria

A pulsação pode sentir-se colocando 2 ou 3 dedos (nunca o polegar) sobre uma artéria superficial do corpo. Os pontos mais frequentes para procurar pulsação são no punho (artéria radial), no pescoço (artéria carótida), face interna do braço (artéria umeral) e virilha (artéria femoral).

Numa primeira abordagem, deve-se sempre pesquisar um pulso central sendo recomendada a pesquisa do pulso carotídeo (no pescoço da vítima).

CONCEITO DE HEMORRAGIA

Quando algum vaso sanguíneo se rompe, o sangue sai através do local da rotura e perde-se. A essa saída de sangue dá-se o nome de hemorragia.

A perda de quantidade superior a meio litro de sangue pode tornar-se grave.

Classificação

Quanto ao vaso lesionada:

Arteriais [(grave) o sangue é mais avermelhado e sai em esguicho]

Venosas [(grave) o sangue é de cor normal, igual ao que se retira para análises]

Capilares [vasos sanguíneos de ligação entre artérias e veias (corte normal na pele)]

Quanto à forma de apresentação:

Externa: o sangue sai por uma ferida existente na pele, sendo, por esse facto, sempre visível

Interna invisível: o sangue fica retido no interior do corpo

Interna visível: o sangue sai por um orifício natural do corpo (boca, nariz, ouvidos, ânus, uretra ou vagina)

Sinais e Sintomas

  • Visualização da saída de sangue

Quando a hemorragia é grave ou interna invisível, é possível identificar a presença de outros sinais e sintomas:

  • Dor local ou irradiante
  • Sede (sempre que há perda de líquidos orgânicos em quantidade)
  • Zumbidos
  • Dificuldade gradual de visão
  • Pulso progressivamente rápido e fraco (verificar carótida ou pulso)
  • Ventilação progressivamente mais rápida e superficial
  • Pupilas progressivamente dilatadas
  • Outros sinais e sintomas de choque

Primeiro Socorro

Tem por finalidade estancar a hemorragia ou, quando isso não seja possível, limitar ao máximo a saída de sangue.

  • Arejar o local para a vítima poder ventilar de forma mais eficaz
  • Desapertar as roupas no pescoço, tóraz e abdómen
  • Animar e moralizar
  • Se consciente, instalar a vítima numa posição de conforto, movimentando-a o menos possível
  • Se inconsciente, Posição Lateral de Segurança (PLS)
  • Manter a temperatura corporal
  • NÃO DAR NADA A BEBER
  • Promover a evacuação para o hospital

HEMORRAGIA INTERNA VISÍVEL

Se o sangue sai através da boca e provém dos pulmões, trata-se de uma hemoptise. Sangue vermelho vivo e espumoso que sai acompanhado de tosse e falta de ar (dispneia).

  • Fazer tudo o que é preconizado como actuação geral
  • Se consciente, recomendar que a vítima ventile pausadamente para evitar tossir

Se o sangue sai através da boca e provém do tubo digestivo, trata-se de uma hematemese. Sangue de cor diversa que sai acompanhado de vómito e geralmente de dor abdominal.

  • Fazer tudo o que é preconizado como actuação geral
  • Se consciente, colocar a vítima deitada sobre o lado esquerdo
  • Colocar um saco de gelo sobre o abdómen (envolver o saco com um pano para evitar o contacto directo com o gelo)

Se o sangue sai pelo nariz, origem não traumática, trata-se de uma epistáxis.

  • A hemorragia pelo nariz pode ser devida a traumatismo craniano. Sempre que haja suspeita desta situação, não tamponar nem fazer compressão digital. Certifique-se que o caso presente não envolve um traumatismo crânio-encefálico
  • Colocar a vítima com a cabeça direita, no alinhamento do corpo, não inclinada para a frente, para evitar aumento do fluxo de sangue à região do nariz, ou para trás, para prevenir a aspiração de sangue para a via aérea
  • Fazer compressão com os dedos polegar e indicador em pinça, apertando as extremidades das narinas durante cerca de 10 minutos
  • Aplicar frio no local através do uso de gelo não directamente sobre a pele
  • Apenas em último caso, se a compressão digital e o arrefecimento nasal se revelarem insuficientes, pode fazer o tamponamento das duas narinas usando, para o efeito, uma tira de pano ou gaze com cerca de 30cms de comprimento e 1cm de largura, a qual será introduzida com uma pinça em pequenas porções de cada vez, tal como um harmónio
  • Promover o transporte ao hospital

HEMORRAGIA EXTERNA

Existem dois processos principais para estancar o sangue de uma hemorragia externa

  • Compressão Manual Directa
  • Compressão Manual Indirecta

Qualquer deles deve ser associado à elevação do membro, se este for o local da hemorragia, mantendo-o mais elevado do que o coração.

Compressão Manual Directa

Consiste em aplicar, sobre a ferida que sangra, um penso, improvisado ou não, comprimindo a zona com a mão ou pedindo à vítima que, se possível, faça a sua própria auto-compressão.

Se o penso se ensopar de sangue não deve ser retirado. Coloca-se outro por cima e faz-se uma compressão manual mais forte

O PRIMEIRO PENSO NÃO DEVE NUNCA SER RETIRADO. Deve-se isso ao facto de que quando se dá uma hemorragia, inicia-se também o processo de coagulação do sangue pelo que, nos bordos do ferimento e no sítio onde está aplicado o penso, este cola-se ao ferimento. Se for retirado, destrói-se o coágulo sanguíneo e tudo volta ao princípio.

Nota: A compressão manual directa não se deve aplicar quando no local existir um corpo estranho encravado ou uma fractura.

Compressão Manual Indirecta

Consiste em comprimir o vaso sanguíneo (artéria), responsável pela irrigação da zona ferida que sangra, de encontro ao osso que lhe seja próximo (é necessário que seja uma zona onde exista só um osso) num ponto entre o coração e o local da hemorragia.

Existem tantos pontos de compressão manual indirecta quantos os locais que estejam nas condições descritas anteriormente. No entanto, embora o seu número seja elevado, são utilizados sobretudo dois, que correspondem às hemorragias que acontecem mais frequentemente. Umeral (para hemorragia no membro superior) e femoral (para hemorragia no membro inferior).

Garrote arterial (improvisado)

As compressões manuais, quando executadas correctamente, são a melhor maneira de estancar uma hemorragia externa, não havendo necessidade de utilizar outros processos.

Mesmo que a compressão manual indirecta por si só não resulte totalmente, continuando a ferida a “babar sangue” em quantidade muito reduzida, não há necessidade de pensar em outro recurso.

Sempre que for possível manter a aplicação de compressão manual indirecta deve utilizar-se o garrote como alternativa última, desde que a hemorragia se verifique em qualquer dos membros superiores ou inferiores.

O garrote deve aplicar-se apenas em casos muito específicos, pois a sua utilização indevida ou descuidada pode ocasionar determinados riscos:

  1. Provocar isquémia grave das extremidades
  2. Traumatizar a zona onde é aplicado
  3. Provocar alteração perigosa do ritmo de trabalho do coração
  4. Provocar insuficiência renal aguda
  5. Provocar aumento da hemorragia quando é retirado

O garrote arterial só deve ser aplicado nos seguintes casos:

  • Estar o socorrista sozinho, perante duas ou mais vítimas e uma das quais com hemorragia grave num membro e outras em situação de socorro essencial. Neste caso, deve colocar-se um garrote no membro que sangra e resolver de imediato as outras situações
  • Encontrar-se o socorrista nas mesmas condições do caso anterior, perante uma única vítima que,além de uma hemorragia grave num membro, tenha também outra lesão de extrema gravidade

Com a aplicação do garrote devem ter-se os seguintes cuidados:

  • Descobrir o membro e em seguida protegê-lo com uma gravata larga que deverá ter um rolo bem apertado numa das suas extremidades e com a grossura necessária a poder encaixar-se no intervalo dos músculos existentes na parte interna do membro, por forma a que a artéria, que passa no local, fique comprimida
  • Em cima desta protecção deve colocar-se o garrote feito com uma gravata estreita, apertando lenta e progressivamente até se verificar a paragem da hemorragia
  • Aplicá-lo sempre acima do ponto de hemorragia e o mais próximo possível da raíz do membro
  • O garrote colocado só deve ser aliviado por pessoal especializado, havendo especial cuidado em marcar a hora da aplicação
  • Para se saber o tempo de aplicação do garrote, a vítima deve ser marcada em local bem visível com as letras H (hemorragia) e G (garrote), seguidas da hora escrita com quatro algarismos e sem qualquer outra indicação, salvo o corte dos zeros para não se confundirem com os algarismos 6 ou 9

HEMORRAGIA DA PALMA DA MÃO

Por se tratar de um local onde existe uma rede muito densa de vasos sanguíneos podendo, por esse motivo, qualquer golpe ocasionar uma perda abundante de sangue, esta hemorragia merece uma actuação muito especial.

Começa-se pela compressão manual directa, se for possível executá-la (ausência de corpos estranhos ou fractura), mas feita pela própria vítima (se estiver consciente). Assim:

  1. Colocar na palma da mão um rolo de pano que deve ser apertado pela vítima [elevar o membro ferido e confortar a vítima (sentá-la)]
  2. Rodar o seu punho de modo a que os dedos fiquem voltados para baixo
  3. Colocar por baixo uma gravata larga que irá seguidamente envolver toda a mão, de modo a que a ponta do lado do dedo polegar venha a cobrir os seus 4 dedos desde o indicador até ao mindinho e a outra cubra o dedo polegar
  4. Puxar para si a mão da vítima, com o antebraço perpendicular ao seu corpo e, alternadamente, puxar as pontas da gravata em sentido contrário, de modo a obrigar os dedos da vítima a apertarem o rolo de pano e atando-as depois à volta do punho
  5. Executar a suspensão do membro superior

~ por Fran em Novembro 12, 2008.

7 Respostas to “Hemorragias”

  1. não entendi nada :)

  2. Qual é a dúvida? Para poder ajudar… :)

  3. “Um traumatismo crânio-encefálico é provocado por uma violência externa que origina lesões a nível do encéfalo, que podem ter consequências neurológicas graves ou provocar a morte por destruição de zonas vitais.”

    Traumatismo crânio-encefálico

  4. Ola, tenho um fucnionário que após ser cobrado fica evidente sinais de sangramento no nariz, ouvido, ânus e até mesmo através da boca. Não tenho idéia de qual patologia ele sofre, e a minha dúvida é de como fazer ou que fazer para ajudá-lo. Se for possível gostaria de uma orientação.

  5. Se isso realmente acontece é urgente ir ao hospital ver do que se trata… A melhor orientação que se pode arranjar para um caso tão grave é num hospital e nas urgências. Trata-se de uma hemorragia interna grave e tem de ser vista por especialistas!

  6. Olá
    Bom dia/Boa tarde
    Estou com uma hemorragia interna no dedo indicador e não sei o que fazer.Observei hoje pela manhã ao acordar.O dedo muito roxo.

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